Julho 2023 | À conversa com Paulo Silveira: “O sucesso é feito pelo errar”

A IPStartUp esteve à conversa com o professor Paulo Silveira, docente da Escola Superior de Ciências Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal e membro integrante do Departamento de Marketing e Logística.

Enquanto mentor da IPStartUp na área de Marketing Management e Marketing Digital, sublinha o potencial empreendedor que a Comunidade Académica possui quando encara a necessidade de empreender com inovação, respondendo a problemas reais da sociedade.

Conhece a jornada do mentor, numa entrevista que podes ler em seguida:

Qual o papel do empreendedorismo na sua vida?

A resposta não é fácil porque depende do conceito que temos do empreendedorismo. Eu considero que o empreendedorismo pode ser pensado de outra forma que não apenas a capacidade de criar uma organização inovadora, mas até mesmo em pequenos atos do nosso dia-a-dia.

Neste contexto apenas da organização, o papel do empreendedorismo na minha vida é este que abraço na IPStartUp de tentar ajudar outros que tenham mais capacidades de execução do que eu a pensar sobre aspetos que possam surgir e que estejam voltados para o meu conhecimento específico, que é o Marketing. Por vezes, passa por dar-lhes também sugestões baseadas em experiências que tive com outras empresas. Por isso, diria que o meu papel atualmente é mais complementar.

Outro aspeto que considero importante é entender o empreendedorismo como a capacidade de alguém pensar numa ideia que venha solucionar, de forma inovadora, um problema existente. O empreendedorismo que eu considero cada vez mais importante para Portugal é aquele que consegue fazê-lo de forma inovadora, mas que procure basear- se na capacidade de resolver problemas existentes. Todas as formas de empreender são formas válidas, mas o empreendedorismo mais necessitado é este mesmo que soluciona problemas.

Enquanto professor, como alcançar a comunidade académica e o seu potencial inovador?

Tenho a certeza de que existe um potencial imenso na comunidade académica. Temos visto que se tem concretizado ao longo dos anos e têm sido dados passos incrementais de inovações no Instituto Politécnico de Setúbal.

Mais uma vez, isto volta à questão do que entendemos por empreendedorismo porque o acolhimento do empreendedorismo na comunidade académica pode ser feito de forma direta, mas também indireta. Depois, claro que existem outras formas de tentarmos estimular o empreendedorismo mais associado à gestão de organizações, quer na vertente comercial de gestão de empresas, quer na criação de organizações que não tenham qualquer fim lucrativo.

Considero que é cada vez mais importante as instituições de Ensino Superior estimularem essas competências empreendedoras. Dizer que é uma tarefa fácil é um chavão que se usa. O IPS tem vindo a promover algumas atividades empreendedoras, progressivas e melhores, como é o exemplo da IPStartUp, mas ainda há trabalho a ser feito.

O fator empreendedor está lá sempre e todos nós, de alguma forma, somos empreendedores. A capacidade que podemos ter aqui de os estimular, pode passar por conseguir estimular o erro. Se o empreendedor quiser ser perfeito desde o inicio, nunca vai obter sucesso. O sucesso é feito pelo errar, pelo não atingir os objetivos ou sonhos que tinha inicialmente.

Alguns destes temas que estamos a refletir prendem-se muito também com contextos históricos em que nos encontramos. Por exemplo, a geração dos meus pais era uma geração muito associada a segurança no trabalho e que, por isso, nos impelia a não arriscarmos muito e isso acabou por passar também para a minha geração.

No caso desta geração atual, a segurança não é algo tão adquirida ou valorizada, mas em contrapartida valoriza-se o ter experiências e o arriscar e isso acaba por influenciar e incentivar ao empreendedorismo.

Depois, claro que se levanta uma problemática. Como é que nós, professores pertencentes a outra geração e com uma mentalidade diferente, conseguimos estimular o empreendedorismo a uma geração como a atual? Há um conflito sobre o que foi o meu histórico e aquilo que os estudantes mais valorizam e este acaba por ser um dos problemas na comunidade docente ainda a melhorar.

Qual a motivação para se tornar mentor da IPStartUp e como tem sido essa experiência?

A motivação está ligada a três aspetos que são, por exemplo, o gosto de ter uma relação próxima com a prática empresarial relacionada com marketing, mas também conseguir contribuir com algumas perspetivas que façam os potenciais empreendedores pensar sobre outras vertentes que eventualmente não tenham pensado e também contribuir para o desenvolvimento do IPS.

Que ligação tem o Empreendedorismo com Marketing?

Marketing, ao contrário do que muitos pensam, não é Comunicação. Marketing está relacionado com causar sorrisos e surpresas nas pessoas com quem interagimos. Numa ótica muito empresarial, é causar esse mesmo efeito nos potenciais clientes para que fiquem fidelizados às marcas e voltem também.

A Comunicação é um elemento dessas partes que englobam o Marketing, mas, para conseguirmos esses sorrisos, temos de dar mais do que comunicação. Temos de dar boas soluções e soluções eficazes  que consigam ser diferentes expressam muito essa capacidade de inovação.

Então, onde entra o Marketing nesta equação? Pela minha experiência de acompanhar ideias empreendedoras nascidas no IPS, fico com a sensação de que grande parte destas ideias pensam no produto que vão vender. Ninguém compra um produto, as pessoas compram os benefícios que esses produtos possam trazer e, às vezes, até podem ser apenas benefícios utilitários desse produto em si. Essa é a perspetiva de Marketing. Nós não vendemos produtos, vendemos soluções inovadoras para problemas e essa acaba por ser a ligação entre estas duas áreas.

No caso da IPStartUp, o meu papel é, por vezes, ajudar a desligar-se da ideia de produto e das características técnicas do produto e focar-se muito mais no resolver dos problemas e das necessidades dos nossos clientes, tendo em consideração as outras alternativas concorrentes que existam.

Enquanto mentor da IPStartUp, que importância atribui a uma incubadora no Ensino Superior para um estudante que queira empreender?

É, por um lado, a perspetiva emocional e o sentir-se acolhido. Importa, para o estudante, compreender que não está num mundo que lhe seja desconhecido sozinho. Proporcionamos-lhe um ambiente, também físico, que lhe pode dar conforto emocional. E depois, todo o suporte técnico e o aconselhamento da IPStartUp, onde existe a possibilidade de terem consultoria quase gratuita e em áreas tão diferentes como Estratégia de Negócio, Engenharias, Marketing, Contabilidade e Finanças.

Essa é uma vantagem que só se consegue ter em instituições de Ensino Superior que estejam dedicadas ao empreendedorismo.

Relativamente ao Poliempreende, que balanço faz desta edição?

O Poliempreende, de forma obrigatória, faz com que o empreendedor tenha de sistematizar uma série de aspetos que o ajudaram a dar passos seguintes na sua ideia de negócio e isso é de extrema relevância.

Aqui no Instituto Politécnico de Setúbal, há também a vantagem do Poliempreende ser acompanhado de forma presente e prática. Com isto, acaba por ser um concurso de extrema importância para a comunidade académica e com mais-valias associadas, ao qual eu gostaria de ver mais estudantes e membros desta comunidade a recorrerem. Se efetivamente queremos fomentar um espírito empreendedor, temos de incentivar mais esta participação, até porque temos capacidade para ter mais equipas a concorrerem no Poliempreende do que as que temos atualmente.

Sei que não é falta de esforço por parte da IPStartUp. Às vezes, também parte da mentalidade do estudante que está muito focado em fazer o seu percurso normal, ter nota positiva, terminar o curso e integrar o mercado de trabalho. Acredito que é essa mentalidade que devemos tentar mudar.

Qual a importância deste concurso para o desenvolvimento profissional dos estudantes?

Por um lado, fomentar essas competências de forma profissional e mais prática, como forma de sistematizar o espírito empreendedor. Por outro lado, a capacidade de dar aos estudantes uma estrutura de apoio e acolhimento e também apoio emocional, tão importante nesta jornada. E, se conseguirem levar a ideia até ao final, é o orgulho de terem concretizado algo desta dimensão.